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Informação e linguagem: naturalização da semântica e aprendizado
Luciana de Freitas, Leonardo Lana de Carvalho

Última alteração: 2018-07-02

Resumo


As ciências cognitivas são um corpo interdisciplinar voltado para o estudo de fenômenos cognitivos. O entendimento da linguagem como processos semióticos emergentes envolvidos na comunicação em sistemas sociais é o foco deste trabalho que tem como objetivo conceptualizar a variação linguística a partir da teoria da enação. O método usado é a análise conceitual, cujo desenvolvimento remonta à tradição da filosofia analítica, filosofia da linguagem mas também à linguística contemporânea. Como resultados apontamos que, primeiramente, a linguagem é entendida como uma característica da evolução desta espécie. Embora os primeiros humanos tenham deixado registros de suas atividades linguísticas em pinturas rupestres, tais desenhos representavam signos que cujo sentido original existia naquela comunidade. Identificamos, a partir da teoria de Maturana e Varela, que o sentido se encontra nas ações vivas, comunicativas, do corpo de um sistema social que através delas se autoproduz. Estudos de campo revelam esta dinâmica social da variação linguística. Um exemplo disso são os modos de falar do nordestino, do mineiro ou do gaúcho que, além de permitir a comunicação entre os indivíduos, mesmo longe dessas comunidades, é também algo que marca a identidade dessas pessoas. Outro exemplo desse fenômeno é a linguagem usada pelos falantes da região do Vale do Jequitinhonha mineiro. Situada numa região próxima à divisa de Minas com os estados do Espírito Santo e da Bahia, os moradores dessas comunidades apresentam uma linguagem bem diferenciada da que é falada em outras regiões do estado. Além da questão geográfica, muitos  indivíduos dali pertencem a uma classe social que, ao longo da história, não recebeu estudo suficiente para dominar a língua escrita e muito do que foi aprendido, foi passado oralmente. Assim, ao dizerem “nubrina” (neblina), “gavar” (gabar) ou “ventagem” (vantagem), essas pessoas reproduzem o que foi aprendido na interação com outras pessoas que assim falavam. A partir da ciência cognitiva enativa, entendemos que as variações de uma língua possuem uma história evolutiva, variando em função do meio social e geográfica. As interações sociais, ou acoplamentos de terceira ordem em Maturana e Varela, podem criar as variações na linguagem. Os modos de falar não são assim obra do acaso, mas estão ligados ao histórico de acoplamentos estruturais, aos lugares de vivencia, aos grupos sociais aos quais os falantes pertencem. Destacamos que a linguagem é algo que une as comunidades, que, por sua característica autopoiética, vai passando essa linguagem para os indivíduos que chegam até ela. De modo conclusivo, entendemos que as variações linguísticas podem ser bem conceptualizadas pela teoria cognitiva enativa que aponta o conceito de autopoiése como central para seu entendimento. Sistemas autopoiéticos são sistemas abertos. Assim as perturbações de meios sócio-geográficos sobre comunidades fazem com que muitas variações ocorram em seus processos internos, como por exemplo no domínio linguístico. Como perspectivas apontamos o aprofundamento dessa análise do processo de variação linguística pela teoria enativa assim como o uso de resultados da modelagem e simulação computacional baseada em Sistemas Complexos Multiagente para melhor entendimento deste processo.

Palavras-chave


linguagem; variação linguística; enação